Trazemos em nós a semelhança de Deus. É nosso título mais belo
(cf. Gn 1,27), ao qual só podemos corresponder com o auxílio
da graça transformadora em nós.
O Pai nos educa, como verdadeiro pedagogo. Passo a passo,
à medida em que os anos avançam, faz aflorar em nós seus próprios
traços, implantados em nosso ser.
Somos um tesouro de potencialidades, de recursos, de qualidades,
que precisam ser “tiradas para fora”. Este é o significado
do verbo “educar” (educere).
São Paulo afirma que isto se dá na medida em que deixamos o
Espírito Santo agir, fazendo transparecer em nós a face de Deus,
de forma sempre mais visível (cf. 2Cor 3,18), amadurecendo nossa personalidade.
A pedagogia divina aparece ao longo da história humana, com suas tragédias
e avanços e, sobretudo, na Sagrada Escritura. Nela, Deus se revela como Pai,
ser dialogante, que se comunica conosco através da criação e através de nossos
semelhantes, fazendo uso de imagens, de mensagens, de acontecimentos.
Ele é comunicativo por excelência, pois o amor tende a comunicar-se,
a irradiar-se. E Deus é amor (1Jo 4,8.16)...
Começando por nossos primeiros pais, passando por
gerações de Patriarcas e de Profetas.
Deus falou de muitas maneiras. Ultimamente, falou-nos por seu Filho (Hb 1,1-2).
Desta forma, Ele exprime quem é, e nos manda segui-lo, para que tenhamos
a felicidade. Este caminho é traçado por sua Lei, inscrita em nossos corações e
expressa nos Mandamentos. O Salmo 118 (119) decanta-a em 176 belíssimos versos,
que assim se iniciam: “Felizes aqueles cuja vida é pura, e seguem a lei do Senhor”.
Por isso, a Lei jamais pode ser olhada como coisa odiosa. Deus no-la dá
para que caminhemos em direção a Ele, no cumprimento de sua vontade,
na qual está nossa plena realização como pessoas: Amá-lo sobre todas as
coisas e ao próximo como a nós mesmos (cf. Mc 12,30-31).
A partir destes dois mandamentos, desdobram-se todos os demais.
O cumprimento do preceito de amar a Deus realiza-se, concretamente, na
santificação de seu nome, conforme o próprio Jesus nos ensinou no Pai-Nosso.
Honrar pai e mãe é um dos mandamentos fundamentais para a
constituição da família e da sociedade. A manutenção da sociedade humana
também depende, diretamente, do quinto mandamento, cujo mandato negativo
é muito forte: Não matar. O descumprimento disto é
a postura que mais se opõe à beleza da criação e da criatura, constituindo
um absurdo, porque vai diretamente contra a própria
santidade de Deus e a que Ele pede de nós.
A pureza de Deus também nos impele a manter-nos puros
em nosso ser e em nossas ações.
Sob todas as suas modalidades, a pureza nos desapega das coisas da terra,
e nos ensina a usar, com dignidade e respeito, o que nos compete:
o nosso próprio corpo e as coisas que estão à nossa disposição.
Dispor de nossas energias para tudo o que é sublime e saber usar
dos bens materiais tanto quanto necessário para nos realizarmos,
sem jamais nos deixarmos dominar por eles.
Outra prática muito importante que Deus exige de nós
é o compromisso com a verdade.
Em tudo o que Deus nos pede, contamos com o infalível auxílio de sua misericórdia.
Nosso Pai do Céu é cheio de compreensão para conosco. Está sempre perto
de quem é fraco, de quem teve suas quedas na vida. Especialmente a esses,
Ele acode com a sua bondade e a sua misericórdia. Basta que a peçam com fé.
Deus misericordioso nos pede que sejamos filhos, não escravos, ou pessoas
indiferentes para Ele. Ele nos quer achegados a si, seus amigos, convidados a
participar da sua intimidade.Mas, para merecermos ser filhos e filhas,
é preciso parecermos com o Filho: ouvir sua voz e seguir seus exemplos.
Jesus nos ensina como ser filhos. Sua vida parece marcada por uma “obsessão”
da presença do Pai, no sentido de uma união eterna, contagiante e transformante.
Essa transformação ocorre no sentido do aperfeiçoamento humano,
porque, enquanto Deus, o Filho é absoluta e infinitamente perfeito.
Portanto, para privarmos da intimidade com o Pai, devemos achegar-nos ao Filho,
configurando-nos à sua imagem. Porque não somos filhos por direito,
mas por adoção, em Jesus. Nele nós temos, pelo dom do Espírito Santo,
a garantia de sermos admitidos, um dia, na casa do Pai, pois Jesus
foi adiante para nos preparar esse lugar (cf. Jo 14,2-3).
CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID
Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
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